terça-feira, 12 de julho de 2011

UNIFORMES DE 1809 A 1815

Portugal encontrava-se invadido pelo inimigo e em plena guerra, estando praticamente todo o País com a sua indústria paralisada. Assim, as nossas fábricas de lanifícios da Covilhã encontravam-se desactivadas; dai as grandes dificuldades em abastecer o exército de panos para os uniformes tendo a Inglaterra tomado, em parte, a seu cargo o fornecimento de "partes" do fardamento, armamento,  equipamento, etc.

Entre os anos de 1809 e 1810 foi fornecido às nossas tropas um novo modelo de barretina do tipo "stove-pipe" e pantalonas de modelo inglês, o que tornava o fornecimento mais simplificado e barato embora o material fosse, regra geral, de pior qualidade.

Pifano de Infantaria n.º 11 (Viseu)
Aguarela do mestre Carlos Alberto Santos
Por especial autorização para este blog
Colecção particular
As pantalonas viam-se pelo menos de três cores: azul ferrete, branco e cinzento-claro, sendo esta última comum aos dois exércitos aliados. As pantalonas foram regulamentadas através da Ordem do Dia de 26 de Setembro de 1809, parágrafo 3.º onde se lê:  "As pantalonas deverão ser feitas de maneira que sejam abertas nas pernas, e bastante largas, e de maneira que se possam usar por fora das polainas."

Quanto às barretinas do novo modelo não se sabe  ao certo a data da sua entrada ao serviço, mas segundo as fontes iconográficas contemporâneas terá sido introduzida entre 1809 e 1810. Contudo uma das fontes mais fidedignas e que poderá servir para as datar, são as gravuras anexas ao livro de Instrucções/ para o Exercício / dos / Regimentos de Infanteria / por Ordem / do / Illustrissimo / e / Excellentissimo Senhor / Guilherme Carr Beresford / Marechal e Commandante em Chefe / dos Exercitos / com Approvação / de Sua Alteza Real / O Principe Regente / de Portugal. / Na Impressão Regia / 1810. / Por Ordem Superior.


Colecção particular
Efectivamente são das primeiras gravuras, oficiais, com militares ostentando as novas barretinas, constratando com as pantalonas que envergam do modelo de 1806. Assim, torna-se extremamente difícil precisar a data em que esta peça entrou ao serviço. Para tornar esta "dança" de datas ainda mais confusa, foi publicado um Decreto com data de 29 de Março de 1810 que, entre outros assuntos, indica-nos a duração e a forma de pagamento dos fardamentos vencidos, etc., em que faz referência a "cordões de barretina", sabendo nós que o novo modelo de cobertura de cabeça era desprovido de cordões...

Como é do conhecimento geral, quando nos exércitos se efectuam as substituições de uns modelos por outros novos, esta ia-se fazendo gradualmente e à medida em que os modelos antigos se iam deteriorando e isso ia acontecendo a pouco e pouco, ou então era estabelecido uma data limite até à entrada definitiva do novo modelo, mas isso geralmente só acontecia no chamado "tempo de paz". Depois é necessário ter em consideração a dificuldade de transportes para o fornecimento de géneros para os fardamentos das tropas que se encontravam em campanha, espalhadas pelo País e em Espanha, tudo isto dificultava o seu regular fornecimento.

 
Colecção particular
Por tudo o que acima foi exposto era natural verem-se militares da mesma unidade com os dois modelos diferentes ou até mesmo misturados; quer dizer, pantalonas de um género e barretinas de outro e isto sem contar com a diversidade de modelos de equipamento e armamento.
PANTALONAS

Colecção particular

Modelo de 1809, compridas bastante folgadas, terminando junto à bainha com uma abertura lateral, para se poderem vestir por cima das polainas. De Inverno era de cor azul ferrete e de Verão poderiam ser brancas ou cinzento-claro.







BARRETINA
Modelo de 1810, de forma cilíndrica a que os ingleses chamavam "stove-pipe" de qualidade muito inferior ao modelo de 1806; confeccionado em feltro preto com um reforço de couro em toda a volta na parte inferior e superior, pala de couro envernizado, tudo da mesma cor. Por cima desta tem uma chapa de metal amarelo, estreita e do comprimento da pala, tendo ao meio o número do regimento em aberto, destas chapas geralmente apresentam-se dois modelos um arredondado e outro em bico ao meio; um pouco mais acima, colocava-se outra chapa do mesmo metal e cor, em forma de elipse com as Armas de Portugal em alto relevo.

Colecção particular

Colecção particular

Colecção particular






















Nas ilustrações em anexo mostram-se duas chapas com as armas de Portugal, uma é cópia das que se mandaram executar por volta de 1908/9 por altura do Centenário da Guerra Peninsular:

Colecção particular
a outra chapa é original e foi adquirida em Espanha em Ciudad Rodrigo, como se pode verificar a peça original nada tem a ver com a cópia; a original é efectuada em latão, que já foi amarelo, muito fino e dos dois lados podem-se observar perfurações que eram feitas para fixar, ou melhor dizendo, cozer a chapa à barretina:

Colecção particular


















Colecção particular



Laço Nacional azul ferrete e escarlate sendo de lã para praças e oficiais inferiores e de seda para oficiais, colocado no alto da barretina na parte da frente ao meio e por cima coloca-se um penacho branco com cerca de 15cm de altura, sendo confeccionado em lã para soldados e oficiais inferiores  e de plumas para oficiais.




Até ao fim da guerra, ou para ser mais preciso até 1815, não houve alterações nos uniformes da infantaria e artilharia, com excepção para:

INFANTARIA
PENACHO PARA BARRETINAS
 No ano de 1811 houve uma pequena alteração na cor dos penachos. Assim, no Quadro Sinóptico desse ano verifica-se que em toda a infantaria o penacho passou a ser dividido em dois, pelas cores vermelho em baixo e branco na parte superior. Apenas se verifica essa "alteração" num Quadro Sinóptico existente no Arquivo Histórico Militar (AHM), porque na escassa iconografia da época, continua a ver-se os penachos totalmente brancos.

No Plano Geral de Uniformes do Exército, Portaria de 19 de Outubro de 1815, remete-nos no capítulo sobre as cores dos penachos para o Plano de 1806, o que significa que se mantém a cor branca; contudo existem umas estampas de 1815 no A.H.M., onde os militares da companhia de granadeiros aparecem com penachos vermelhos e brancos, sendo 1/3 vermelho na base e os restantes 2/3 branco, mas nada existe escrito e regulamentado; aliás após o Plano de 1815 o que se publicou a seguir foi o de 1834, após o fim da Guerra Civil.


Colecção particular

Os movimentos da Restauração do reino começaram quase simultâneamente no Norte, Algarve e Alentejo. Como já foi dito, por essa altura, o exército ainda não estava todo uniformizado com as fardas do novo padrão (1806); assim, além de uniformes antigos, muitos nem sequer tinham fardas distribuídas, nesse sentido foi publicado pela Portaria de 20 de Setembro de 1808 que " (...) todos os individuos que compuzerão os Exercitos, que das Províncias do Norte vierão em socorro da Capital, fiquem usando, como distinctivo, de hum laço branco no braço direito os que compõe o Exercito, que veio do Além-Tejo e Algarve, usem do mesmo laço encarnado(...)"



Portaria de 20 de Setembro de 1808
Colecção particular
Texto e ilustrações: marr

1 comentário:

  1. Muito interessante, esse pormenor do laço no braço direito, o qual seria motivo de justificado orgulho para os nossos patriotas antepassados.

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