sexta-feira, 15 de julho de 2011

ICONOGRAFIA

UNIFORMES
DE
1806 A 1810


REGIMENTO DE INFANTARIA N.º 1 - LISBOA




Colecção particular
 
Colecção particular








TESTA DE COLUNA
DO
REGIMENTO DE INFANTARIA N.º 24
BRAGANÇA


Este conjunto de 7 aguarelas, representam a "testa da coluna" do Regimento de Infantaria N.º 24, com uniforme de Verão. A ordem porque se apresentam as ilustrações correspondem à formatura de uma unidade de infantaria em parada e conforme consta no respectivo regulamento: primeiramente marchavam os porta-machados, seguindo-se a banda, depois o "corpo" de tambores, ou seja o conjunto de todos os tambores das respectivas companhias, a 1.ª Companhia com as respectivas bandeiras, a 2.ª Companhia, etc.

                      Porta-machados                                                                 Pífanos               
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Banda de música
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Tambor-mor                                                                                     Tambores
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Tambores                                                                                            Coronel Comandante
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a)  b)                            c)                                                       d)         
                          Colecção particular                            
a) - 2.º Comandante, Tenente-Coronel b) - Ajudante, Major
c) - Comandante de Companhia, Capitão
d) - 1.ª Companhia

       e)                   f)                      g)                                           h)
                                Colecção particular                                   
e) - Porta-bandeira, Alferes ou 1.º Sargento
f) - Escolta da s bandeira, 2.ºs Sargentos
g) -Porta-bandeira. Alferes ou 1.º Sargento
h) - 1.ª Companhia


      i)                                                                       j)      
                                                       Colecção particular                                                             
 i) - Comandante de Companhia, Capitão
j) 2.ª Companhia
Observação: Estas 7 aguarelas foram feitas de modo a poderem, unindo-se, fazer um único conjunto.

REGIMENTO DE INFANTARIA N.º 2 - LAGOS

Colecção particular
 
Colecção particular

Texto e ilustrações: marr

terça-feira, 12 de julho de 2011

UNIFORMES DE 1809 A 1815

Portugal encontrava-se invadido pelo inimigo e em plena guerra, estando praticamente todo o País com a sua indústria paralisada. Assim, as nossas fábricas de lanifícios da Covilhã encontravam-se desactivadas; dai as grandes dificuldades em abastecer o exército de panos para os uniformes tendo a Inglaterra tomado, em parte, a seu cargo o fornecimento de "partes" do fardamento, armamento,  equipamento, etc.

Entre os anos de 1809 e 1810 foi fornecido às nossas tropas um novo modelo de barretina do tipo "stove-pipe" e pantalonas de modelo inglês, o que tornava o fornecimento mais simplificado e barato embora o material fosse, regra geral, de pior qualidade.

Pifano de Infantaria n.º 11 (Viseu)
Aguarela do mestre Carlos Alberto Santos
Por especial autorização para este blog
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As pantalonas viam-se pelo menos de três cores: azul ferrete, branco e cinzento-claro, sendo esta última comum aos dois exércitos aliados. As pantalonas foram regulamentadas através da Ordem do Dia de 26 de Setembro de 1809, parágrafo 3.º onde se lê:  "As pantalonas deverão ser feitas de maneira que sejam abertas nas pernas, e bastante largas, e de maneira que se possam usar por fora das polainas."

Quanto às barretinas do novo modelo não se sabe  ao certo a data da sua entrada ao serviço, mas segundo as fontes iconográficas contemporâneas terá sido introduzida entre 1809 e 1810. Contudo uma das fontes mais fidedignas e que poderá servir para as datar, são as gravuras anexas ao livro de Instrucções/ para o Exercício / dos / Regimentos de Infanteria / por Ordem / do / Illustrissimo / e / Excellentissimo Senhor / Guilherme Carr Beresford / Marechal e Commandante em Chefe / dos Exercitos / com Approvação / de Sua Alteza Real / O Principe Regente / de Portugal. / Na Impressão Regia / 1810. / Por Ordem Superior.


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Efectivamente são das primeiras gravuras, oficiais, com militares ostentando as novas barretinas, constratando com as pantalonas que envergam do modelo de 1806. Assim, torna-se extremamente difícil precisar a data em que esta peça entrou ao serviço. Para tornar esta "dança" de datas ainda mais confusa, foi publicado um Decreto com data de 29 de Março de 1810 que, entre outros assuntos, indica-nos a duração e a forma de pagamento dos fardamentos vencidos, etc., em que faz referência a "cordões de barretina", sabendo nós que o novo modelo de cobertura de cabeça era desprovido de cordões...

Como é do conhecimento geral, quando nos exércitos se efectuam as substituições de uns modelos por outros novos, esta ia-se fazendo gradualmente e à medida em que os modelos antigos se iam deteriorando e isso ia acontecendo a pouco e pouco, ou então era estabelecido uma data limite até à entrada definitiva do novo modelo, mas isso geralmente só acontecia no chamado "tempo de paz". Depois é necessário ter em consideração a dificuldade de transportes para o fornecimento de géneros para os fardamentos das tropas que se encontravam em campanha, espalhadas pelo País e em Espanha, tudo isto dificultava o seu regular fornecimento.

 
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Por tudo o que acima foi exposto era natural verem-se militares da mesma unidade com os dois modelos diferentes ou até mesmo misturados; quer dizer, pantalonas de um género e barretinas de outro e isto sem contar com a diversidade de modelos de equipamento e armamento.
PANTALONAS

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Modelo de 1809, compridas bastante folgadas, terminando junto à bainha com uma abertura lateral, para se poderem vestir por cima das polainas. De Inverno era de cor azul ferrete e de Verão poderiam ser brancas ou cinzento-claro.







BARRETINA
Modelo de 1810, de forma cilíndrica a que os ingleses chamavam "stove-pipe" de qualidade muito inferior ao modelo de 1806; confeccionado em feltro preto com um reforço de couro em toda a volta na parte inferior e superior, pala de couro envernizado, tudo da mesma cor. Por cima desta tem uma chapa de metal amarelo, estreita e do comprimento da pala, tendo ao meio o número do regimento em aberto, destas chapas geralmente apresentam-se dois modelos um arredondado e outro em bico ao meio; um pouco mais acima, colocava-se outra chapa do mesmo metal e cor, em forma de elipse com as Armas de Portugal em alto relevo.

Colecção particular

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Nas ilustrações em anexo mostram-se duas chapas com as armas de Portugal, uma é cópia das que se mandaram executar por volta de 1908/9 por altura do Centenário da Guerra Peninsular:

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a outra chapa é original e foi adquirida em Espanha em Ciudad Rodrigo, como se pode verificar a peça original nada tem a ver com a cópia; a original é efectuada em latão, que já foi amarelo, muito fino e dos dois lados podem-se observar perfurações que eram feitas para fixar, ou melhor dizendo, cozer a chapa à barretina:

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Laço Nacional azul ferrete e escarlate sendo de lã para praças e oficiais inferiores e de seda para oficiais, colocado no alto da barretina na parte da frente ao meio e por cima coloca-se um penacho branco com cerca de 15cm de altura, sendo confeccionado em lã para soldados e oficiais inferiores  e de plumas para oficiais.




Até ao fim da guerra, ou para ser mais preciso até 1815, não houve alterações nos uniformes da infantaria e artilharia, com excepção para:

INFANTARIA
PENACHO PARA BARRETINAS
 No ano de 1811 houve uma pequena alteração na cor dos penachos. Assim, no Quadro Sinóptico desse ano verifica-se que em toda a infantaria o penacho passou a ser dividido em dois, pelas cores vermelho em baixo e branco na parte superior. Apenas se verifica essa "alteração" num Quadro Sinóptico existente no Arquivo Histórico Militar (AHM), porque na escassa iconografia da época, continua a ver-se os penachos totalmente brancos.

No Plano Geral de Uniformes do Exército, Portaria de 19 de Outubro de 1815, remete-nos no capítulo sobre as cores dos penachos para o Plano de 1806, o que significa que se mantém a cor branca; contudo existem umas estampas de 1815 no A.H.M., onde os militares da companhia de granadeiros aparecem com penachos vermelhos e brancos, sendo 1/3 vermelho na base e os restantes 2/3 branco, mas nada existe escrito e regulamentado; aliás após o Plano de 1815 o que se publicou a seguir foi o de 1834, após o fim da Guerra Civil.


Colecção particular

Os movimentos da Restauração do reino começaram quase simultâneamente no Norte, Algarve e Alentejo. Como já foi dito, por essa altura, o exército ainda não estava todo uniformizado com as fardas do novo padrão (1806); assim, além de uniformes antigos, muitos nem sequer tinham fardas distribuídas, nesse sentido foi publicado pela Portaria de 20 de Setembro de 1808 que " (...) todos os individuos que compuzerão os Exercitos, que das Províncias do Norte vierão em socorro da Capital, fiquem usando, como distinctivo, de hum laço branco no braço direito os que compõe o Exercito, que veio do Além-Tejo e Algarve, usem do mesmo laço encarnado(...)"



Portaria de 20 de Setembro de 1808
Colecção particular
Texto e ilustrações: marr

domingo, 3 de julho de 2011

PROCLAMAÇÕES

PROCLAMAÇÃO
DE
 1O DE SETEMBRO DE 1808

DOS COMISSÁRIOS BRITÂNICO E FRANCÊS ENCARREGADOS DE FAZER EXECUTAR A CONVENÇÃO DE 30 DE AGOSTO PARA A EVACUAÇÃO DO EXÉRCITO

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PROCLAMAÇÃO
DE
15 DE SETEMBRO DE 1808

DO TENENTE-GENERAL HOPE PARA A IMEDIATA SEGURANÇA E TRANQUILIDADE DE LISBOA


Colecção particular
PROCLAMAÇÃO
DE
18 DE SETEMBRO DE 1808

DO TENENTE-GENERAL DALRYMPLE NA OCASIÃO DO EMBARQUE DO EXÉRCITO FRANCÊS, CHAMANDO OS GOVERNADORES DO REINO AO EXERCÍCIO DOS SEUS LUGARES



Colecção particular

marr

APÓS AS BATALHAS DA ROLIÇA E DO VIMEIRO...

AGOSTO
DIA 22

Colecção particular

Concorda-se que entre os exércitos inglês e francês se estabeleça um armistício, ficando o rio Sizandro como linha que demarque os terrenos ocupados por um e outro, declarando-se neutra, para ambos, a posição de Torres Vedras. Dalrymple fará aceitar o armistício pelos portugueses, cujas forças se colocaram entre Leiria e Tomar; os franceses não ficariam prisioneiros de guerra e levariam para França o que lhes pertencia; a todos os indivíduos daquela nação, e bem assim os portugueses, que se declararam a favor do domínio de Napoleão, foi dada toda a protecção pelos ingleses; do porto de Lisboa, que passou a ser considerado neutro, teve toda a liberdade de sair a esquadra russa que ali se encontrava fundeada, não podendo ser perseguida senão depois do tempo fixado pelas leis marítimas; a artilharia de calibre francês e o gado da cavalaria invasora seriam igualmente levados para França; a ruptura do armistício declarar-se-ia vinte e quatro horas antes de principiarem de novo as hostilidades; as fortalezas, em poder dos franceses e que até 25 de Agosto não tivessem capitulado, seriam entregues aos ingleses. Esta última clausula constava de um artigo adicional.

O General Kellermann, depois de combinado o armistício, regressou para o seu acampamento, que naquele dia foi em Cabeça de Montachique.

DIA 23

Colecção particular

Junot chega tarde a Lisboa, onde é recebido como se tivesse ficado vencedor no Vimeiro, o que é afirmado numa proclamação de Lagarde, intendente geral da polícia. O castelo de São Jorge dá uma salva de 21 tiros no momento da chegada. Apesar das falsas notícias espalhadas na capital pelos franceses, muitos destes não escondem a sua tristeza e desalento.

Sir Arthur Wellesley, escrevendo do campo do Ramalhal a Lord Castlereagh, pede-lhe que embora lhe veja o nome na convenção feita para a evacuação de Portugal pelos franceses, não queria que ele negociasse ou aprovasse, nem que tivesse intervindo na sua redacção.

Colecção particular
Foi o General Sir Hugh Dalrymple que a negociou, na presença de Burrard e de Wellesley. Depois de o General Kellermann a redigir,  Dalrymple desejou que Wellesley a assinasse, o que foi sugerido por Kellermann. Wellesley pôs a objecção à "verbiage" (esta palavra francesa está no original inglês) do documento e a ficar indefinido o prazo da convenção, que no seu entender devia ser de 48 horas, unicamente. Aprova que se permita aos franceses que evacuem Portugal, porque lhe parece impossível que as tropas de Sir John Moore marchassem sobre Santarém a fim de lhes cortar a retirada para Évora, e porque, podendo o inimigo estabelecer-se ao abrigo desta praça, do forte da Graça, de Almeida e de Peniche, seria necessário fazer o sitio em regra a estas fortificações ou bloqueá-las, na pior estação do ano em que se podem fazer tais operações em Portugal, julga preferível, para a causa geral, ter 30.000 ingleses em Espanha, onde, feita a Convenção, poderão penetrar imediatamente, a empregá-las em tomar ou bloquear praças de guerra portuguesas. Entende, porém, que se for permitido aos franceses o saírem de Portugal, só deverão levar consigo o que lhes pertence, e que se tomem as medidas necessárias para que os seus generais restituam a prata que roubaram das igrejas.

DIA 24 
O Coronel Murray, que tinha ido a bordo da esquadra inglesa, apresentar a Sir Charles Cotton, os artigos da convenção estipulada entre Junot e Dalrymple, volta com a resposta do Almirante. Nega-se este a aceitar semelhantes condições e diz que procederá isoladamente em relação à esquadra russa. Dalrymple envia Murray para Lisboa, a fim de participar a Junot que, em consequência daquela oposição, está  quebrado o armistício, mas que Murray vai munido de plenos poderes para entabelar negociações acerca de outra Convenção, feita sobre novas bases.

Foi então que o exército inglês avançou para a frente, até penetrar no Ramalhal.

DIA 25
A divisão de Sir John Moore começa a desembarcar na praia da Maceira. Unindo o seu efectivo ao das tropas comandadas por Hugh Dalrymple, elevando-se a 30.000 homens, a força total do exército britânico existente em Portugal.

DIA 26
Por determinação da junta de Beja, estabelece-se em Évora uma junta, que fica governando em nome do Príncipe Regente. Esta exerceria os seus poderes até que se constituísse em Lisboa a nova regência.

Os franceses abandonam Setúbal, o que dá lugar a que ali se constitua uma junta provisional de governo.

DIA 27
Dalrymple recebe informação, mandada pelo Coronel Murray, de se estar a negociar, em Lisboa, outra Convenção sobre novas bases, sendo o negociador, da parte dos franceses, o general Kellermann, que já tratara da primeira.


Colecção particular

Sir Charles Cotton escreve a Sir Hew Dalrymple, de bordo do navio Hibernia, que se encontra fundeado frente a Cascais, a lembrar-lhe que, tendo os franceses evacuado Setúbal, seria bom enviar para lá as forças de Sir John Moore que tinham desembarcado na Maceira. " Com a assistência dos leais portugueses, acrescente o almirante, poder-se-á tomar posse das duas margens do Tejo." Diz também que nunca poderá concordar com os artigos preliminares do armistício que leu na véspera, de modo que sirvam de base para um tratado definitivo.

Comunica. na mesma data, a Dalrymple, em outro oficio, que segundo lhe participam os informadores que tem em Lisboa, os franceses estão em tamanho desalento, que se renderam á discrição e aceitaram a clausula de irem para França como prisioneiros de guerra.

DIA 28
As tropas portuguesas do comando de Bernardim Freire, que não tinham partido da Lourinhã por causa do armistício em ajuste entre franceses e ingleses, ocupam o lugar da Encarnação, junto a Mafra.

As forças de Trás-os-Montes e Beira Alta, comandadas pelo general Manuel Pinto Bacelar, que estavam de observação em Santarém, recebem ordem para avançar.

Desfeito o armistício e esperando-se novos combates, Sir Hugh Dalrymple faz movimentar as suas forças, ocupando parte dele Torres Vedras, ficando os restantes acampados na retaguarda da mesma vila.

DIA 29
Reina grande agitação em Lisboa, aumentando as esperanças e os receios a todo o instante pela ignorância em que está a população acerca da marcha das negociações entre Murray e Kellermann, bem como pelas notícias contraditórias espalhadas pelos franceses e pelas pessoas que estavam em comunicação com as províncias.


Colecção particular

Os portugueses, cobrando ousadia, ultrapassam a linha de demarcação entre os dois exércitos, acometem as patrulhas francesas e ameaçam um ataque dos lados de Santarém. Embora Dalrymple se coloque de fora destes acontecimentos, o desacordo entre ele e Junot vai-se agravando, a ponto de que este último, recobrando por momentos a sua energia natural, ameaça largar fogo aos edifícios públicos de Lisboa e defender palmo a palmo as ruas da cidade, à custa da qual será feita a retirada. A artilharia do castelo de São Jorge, que estava em poder dos franceses, pode efectivamente causar, em grande parte da capital, prejuízos incalculáveis.

Parece que Dalrymple, temendo Junot, se resolveu a assinar a Convenção, que tantos dissabores havia de causar-lhe.

DIA 30
Concluí-se em Lisboa o tratado entre franceses e ingleses, que é designado pelo nome de Convenção de Sintra. Consta de 22 artigos principais e de mais 3 complementares, tendo havido, sobre pormenores de alguns deles, divergências entre Wellesley e Dalrymple. Diversas condições são quase as mesmas que as do armistício, tendo-se, porém, excluído a que, nesta se referia à esquadra russa do almirante Siniavin. Estabelece-se que o governo britânico fornecerá os transportes para se recolherem a França as tropas de Junot, ficando os doentes ao cuidado dos ingleses e devendo as despesas ser pagas pelo governo de Paris; que o exército francês se concentre em Lisboa e arredores até duas léguas de distância , e que o inglês avance até à distância de três; que as tropas britânicas ocupem Cascais, São Julião da Barra e o Bugio, logo que esteja devidamente ratificada a convenção, e Elvas, Almeida e o castelo de Palmela, quando isso fosse realizável; finalmente que os generais franceses possam levar consigo o que for propriedade sua.

Colecção particular


Embora se lhe chame usualmente "Convenção de Sintra" este ajuste foi feito e assinado em Lisboa por Murray e Kellermann. Junot ratificou-o também em Lisboa, no dia 30 de Agosto, e Dalrymple em Torres Vedras, no dia 31, segundo refere Arthur Wellesley na alegação com que justificou o seu procedimento perante a comissão de generais ingleses, que, em Londres, inquiriram do modo por que se tinham havido os negociadores, quando a opinião publica tanto os estigmatisava em todo o Reino Unido.

Proviria aquela errada denominação, como quer Brialmont, de ter sido datado de Sintra o oficio de Dalrymple para o governo inglês, que acompanhou a cópia da "Convenção"?

Junot ratifica em Lisboa a precedente Convenção, mas, por lapso, assina apenas os artigos adicionais.

O Conde de Castro Marim, com algumas tropas do Algarve, entra em Évora, tendo empregado o tempo que passou em Beja a estabelecer relações com o general Francisco de Paula Leite, e outras autoridades militares do Alentejo, tendo lá deixado a maior parte das forças que o acompanhavam.


SETEMBRO DE 1808

DIA 1
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Junot recebe a convenção revestida das necessárias ratificações. É-lhe enviado como reféns o coronel do estado-maior inglês Duncan. O major Desroches é mandado a Dalrymple, nas mesmas condições.

As forças portuguesas reunidas em Campo Maior marcham a juntar-se com as do Algarve, a fim de, em cumprimento das instruções do governo do Porto, marcharem para Lisboa, sob o comando do Conde de Castro Marim.


DIA 2
Estabelece-se em Oeiras o quartel general do exército britânico, ficando a direita apoiada nos fortes da barra do Tejo e a esquerda nas alturas de Belas.

Os fortes de São Julião da Barra, Cascais e Bugio são entregues às tropas britânicas, e é neles "impropriamente hasteadas", confessa-o Napier, a bandeira inglesa, em vez da portuguesa.


Beresford
Colecção particular

As forças inglesas que ocupam aquelas obras são os regimentos 3 e 42, que desembarcam para tal fim. Comanda-os o major-general Wlliam Carr Beresford. Vinha da Madeira, onde tinha estado comandando as tropas inglesas que guarneceram a ilha, e exerceu as funções de governador militar, de acordo com a ajuste havido entre os governos britânico e português.

Aqueles acontecimentos causam a maior alegria a Lisboa, cujo povo andava em constante alvoroço, quando se separa a esquadra de Cotton e os navios fundeados desde a enseada de Paço de Arcos até à Boa Viagem, saíram deles escaleres cheios de tropas de desembarque. O Tejo fica assim aberto à navegação, depois de nove meses de rigoroso bloqueio exercido pelos ingleses.

O exército francês, concentrado em Lisboa, ocupa as principais praças e cerca-se de vedetas e patrulhas, como se estivesse em frente do inimigo. De noite as sentinelas fazem fogo sobre qualquer pessoa, que se aproxima do seu posto.

Os lisboetas declaram que estando certo o auxílio dos espanhóis, Portugal não precisava de que a Inglaterra lhe viesse acudir, para afinal de contas se fazer um tratado naquelas condições, com a agravante de não haver nele referência ao Príncipe Regente nem à Junta do Porto, e que tem condições muito mais desvantajosas que o que fizera o general espanhol D. Francisco Castaños em Baylen, depois de vencer as forças de Dupont.


Tenete-General Silveira
Colecção particular

Francisco da Silveira Pinto da Fonseca estando com as tropas no campo da Encarnação, solicita por escrito a Bernardim Freire que se pergunte ao general Dalrympl se consente que o exército português rompa as hostilidades contra os franceses. Se a resposta fosse afirmativa, podia desde logo proceder-se; se fosse negativa, deve lavarar-se protesto: "é necessário, diz Silveira, obstar ao saque já iniciado em Lisboa, no dia anterior"

Dia 3
Lagrave, parte para Paris, a fim de entregar a Napoleão cópia da Convenção e o relatório do general-em-chefe.

Dia 4

General Bernardim
Colecção particular

O general Bernardim Freire, que se encontra igualmente com o seu exército na Encarnação, protesta contra a Convenção realizada entre ingleses e franceses, em razão da falta de contemplação dela havida para com o Príncipe Regente e o governo que o representa, e de tudo o que nas suas estipulações é contrário à honra, segurança e interesses de Portugal. Específica, igualmente, no protesto o não se afirmar na Convenção que é só provisória a entrega das praças de guerra portuguesas, etc. à tropas inglesas. Entende que o exército inglês existente em Portugal deve considerar-se como auxiliar. Outra clausula da Convenção que lhe merece o mais forte protesto: é a que isenta de castigo os portugueses que tenham servido os franceses, e aos quais deve aplicar-se, pelo menos, a pena de extermínio.

Dia 5
O Conde de Castro Marim, Francisco de Mello da Cunha Mendonça e Menezes, general das tropas levantadas no Algarve, protesta contra a Convenção, porque nem o Príncipe Regente nem o seu governo foram consultados a tal respeito, e pela falta de atenção que se usou para com ele, não obstante os serviços prestados. Lembra que, sem o auxílio de estrangeiros, expulsou do Algarve os franceses, avançou pelo Alentejo e veio postar-se na margem esquerda do Tejo com as forças do seu comando.

Dia 7
Os portugueses arrancam as taboletas franceseas que havia em muitos locais de Lisboa. As tropas inglesas que aparecem nas ruas são aplaudidos com delirio e seguidos por uma imensa multidão, sendo brindados com refrescos.

Dia 8
As tropas do Algarve, sob o comando do Conde de Castro Marim, que de Évora tinham vindo para Montemor-o-Novo e Vendas Novas, recebendo neste lugar informações positivas a respeito dos acontecimentos militares e politicos por intermédio de Francisco de Mello Breyner, chegam à vila de Palmela, que já se encontrava evacuada pelo inimigo.

O Conde transfere o seu quartel general para Azeitão, onde permanece até ir ocupar o lugar na regência que se organisou em Lisboa, pouco depois, havendo antes guarnecido com tropas suas a margem esquerda do Tejo, desde Coina até à Trafaria, no intento de obstar a que o inimigo por ali se escapasse.

Coorden. de textos: marr