domingo, 14 de agosto de 2011

ARMAMENTO

PRAÇAS E OFICIAIS INFERIORES

ARMAMENTO
No respeitante ao rearmamento das nossas forças, foi-se reunindo, a pouco e pouco, o velho material espalhado pelos vários arsenais e localidades do país, que ali se tinham deixado ao abandono, quando Junot dissolveu os nossos regimentos. Receberam-se igualmente muitas espingardas e pólvora de Espanha e da Inglaterra, concertaram-se as armas velhas e outras que o inimigo havia inutilizado, na sua retirada, de modo a que pudessem ainda servir. Assim de início, se armou mal o exército e o povo.
ESPINGARDA DE FECHO DE SÍLEX
Como toda a infantaria europeia, os nossos militares estavam armados com espingardas de fechos de sílex de carregamento pela boca; o cão, que era a peça da fecharia que sustinha nos dentes uma pedra de sílex, que quando desarmada e ao bater violentamente no fusil produzia chispas, que provocava a inflamação da pólvora na caçoleta. Era defeituoso tal modelo e apresentava na prática grandes inconvenientes; contudo este tipo de fechos constituiu um dos grandes aperfeiçoamentos por que passou a arma de fogo, uma vez que permitia com um só movimento e na ocasião do tiro fazer inflamar a escorva.
Espingarda portuguesa
Colecção particular
O seu manejo e funcionamento era extremamente moroso e só com uma grande experiência, que raramente era atingida, se conseguia dar dois tiros num minuto, aliando-se ainda como inconveniente primordial nem sempre funcionar. As falhas no fogo eram imensas, principalmente quando chovia ou estava uma atmosfera húmida, porque em se molhando a pólvora da escorva a arma não abria fogo.


Espingarda portuguesa
Colecção particular

Cada espingarda tinha como pertences o seguinte:
- Uma vareta de ferro que servia para o carregamento da arma. Era com a vareta que se comprimia a pólvora dentro da câmara, e que depois servia para aconchegar a carga explosiva ao projéctil, para assim permitir um tiro eficiente para atacar a munição.

- Um saca-trapo que era um instrumento em espiral, de ferro que se adaptava à vareta da espingarda e que servia para extrair da alma da arma as buchas e outros resíduos provenientes da deflagração da pólvora. Empregava-se igualmente para a limpeza das almas das espingardas, com algodão embebido em aguardente, esfregando o interior do cano até este ficar completamente limpo e seco.

- Uma andadeira (chave) de parafusos que, conforme o nome nos indica, servia para apertar os fechos e outras peças da espingarda.

-Uma agulha em forma de verruma para limpeza do ouvido, quando a pólvora se molhava ou estava junto à caçoleta.

Pela Ordem do Dia de 24 de Abril de 1809, foi estipulado que cada soldado deveria ter três pedreneiras já incluindo a da espingarda; cada praça teria, igualmente, oitenta cartuchos e deste traziam consigo na patrona os que coubessem e os restantes ficavam na reserva e acompanhavam sempre as Unidades, devendo ir "muito bem acondicionados em caixotes e transportados por bestas"


A NEW LAND PATTERN
Foi esta espingarda fornecida em grandes quantidades ao exército português. Este era o mosquete regulamentar inglês de meados do século XVIII e chamava-se "Long Land Musket" devido ao facto do seu comprimento, cerca de 1,60m, foi este modelo também fornecido ao nosso exército por altura das Campanhas de 1762.

Colecção particular
No decorrer das guerras napoleónicas a Grã-Bretanha decidiu que o seu armamento deveria ser produzido em grandes quantidades e tornar-se mais barato. Para isso, eliminou-se a abraçadeira que unia o cano à coronha e o excesso de acabamentos, substituindo-se, igualmente, a antiga vareta de madeira por uma de ferro e assim surgiu a célebre espingarda de infantaria "New Land Pattern", frequentemente denominada pelos soldados de "Brown Bess" ou mais carinhosamente "Bessie".
Colecção particular
Uma das diferenças que permite rapidamente distinguir as armas inglesas das do resto da Europa é que o método pelo qual os canos são presos à coronha não utilizando uma série de abraçadeiras, mas sim através de um conjunto de olhais e espigões metálicos existentes ao longo do cano e da coronha respectivamente.

Fechos da Brown Bess
Colecção particular

























Colecção particular



















O cano era de alma lisa, tinha um calibre de 20mm, Andarme:10 e um comprimento total de 1,383m e o cano 983cm . O peso total de 4,200 quilos

BAIONETA
À espingarda adaptava-se uma baioneta para servir como arma branca, sendo muito importante o seu emprego no combate. A lâmina era, em geral, de secção triangular com goteiras nas faces, terminando por uma ponta de estoque. Posteriormente, um cotovelo ligado a um tubo (alvado) que servia de punho e para se ligar ao cano da espingarda, havendo nesse tubo um mecanismo de encaixe para permitir uma sólida e segura união.

Colecção particular

Deveria ter a baioneta os seguintes requisitos:
-Ter comprimento suficiente para dar à espingarda a vantagem de ser uma arma de haste;
- Unir-se solidamente à espingarda, para permitir uma estocada firme;

Colecção particular







- Ter uma lâmina recta para poder ser utilizada como arma de ponta;
- Ser rígida para não dobrar e flexível para não saltar;

Colecção particular
- Ser leve para não desequilibrar a arma no respeitante à pontaria e ter a folha desviada da direcção do cano da espingarda, quer dizer, do sector da explosão, para que, quando armada permitir o tiro da arma.


Terçado
Colecção particular
 TERÇADO

Arma branca, de punho com lâmina de folha larga, recta ou curva. A bainha era de couro preto tendo o bocal e a ponteira de latão amarelo. Este era colocado numa pala dupla, onde entrava o terçado e a baioneta.



Terçado
Colecção particular
  No Plano de Uniformes de 1806 a utilização do terçado não estava muito bem definida embora se mencionem os 1.º e 2.º Sargentos, Tambor-Mor, Furriel, Cabo e o Anspeçada. Contudo sabe-se que também eram utilizados pelos: Tambor, Pífano, Músicos e por todos os componentes das Companhias de Granadeiros, da Companhia de Caçadores e pelos Porta-Machados, além de outros que nos é dado a ver nas respectivas fontes iconográficas.

Havia diversos modelos de terçados: o português e os de outras origens nomeadamente ingleses.


Terçado português
Colecção particular


















Terçado português (pormenor do guarda-mão)
Colecção particular




















FIADORES
PARA TERÇADO

MODELO PORTUGUÊS




1.º SARGENTO
Liga vermelha com borla dourada
e franjas de seda dourada
Colecção particular

2.º SARGENTO E TAMBOR-MOR
Liga vermelha com borla e franjas
de seda dourada
Colecção particular



























FURRIEL
Liga, borla e franjas de lã amarela


CABO, ANSPEÇADA E PRAÇA
Liga, borla e franjas de couro
amarelo























OUTROS MODELOS


Colecção particular




















Colecção particular


















As legendas são iguais às dos terçados portugueses.


ESPONTÃO
Colecção particular

Colecção particular



Esta arma/insígnia foi utilizado durante o século XVII e XVIII, como símbolo e insígnia do posto de Alferes, contudo a partir da época em estudo deixou de ser utilizada por esses oficiais e passou a ser utilizada "simbolicamente" pelos Sargentos em substituição da Alabarda e mesmo assim caiu totalmente em desuso.




ALABARDA

Colecção particular







Esta arma/insígnia foi o símbolo por excelência do posto de sargento, tendo deixada de ser utilizada por razões práticas, no fim do século XVIII, contudo foram distribuídos espontões para os substituir, mas durante o período em causa raramente eram utilizados

MACHADO

Esta arma/utensílio era de uso exclusivos dos porta-machados ou gastadores, que eram elementos da Companhia de Granadeiros.



Colecção particular
De cabo bastante comprido em madeira, destinado a ser manejado com as duas mãos; de lâmina larga e curva, era utilizado para desbastar o matagal, cortar alguns obstáculos que pudessem entravar o movimento das tropas no terreno, derrubar portas, etc.  Existiam diversos modelos de ferros, embora bastante aproximados no seu feitio



Colecção particular



































Texto e ilustrações: marr

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

ARMAMENTO E EQUIPAMENTO

PROCLAMAÇÃO DOS GOVERNADORES DO REINO
DE
9 DE DEZEMBRO DE 1808

Às armas, portugueses, às armas! A necessidade exige que a Massa da Nação empunhe armas; e todas as armas na mão robusta de um Defensor da Pátria são instrumentos decisivos da vitória. O Governo vigia sobre a subsistência dos exércitos. (...) Portugueses, contra um inimigo poderoso, e vigilante não deve haver descuido. A Nação que quer ser livre, nenhuma força a pode tornar escrava. Uma Nação levantada em massa tem uma força irresistível (...) Nada vale a vida sem a honra; e o mais doce de todos os prazeres é o de ter defendido a Pátria (...)

Proclamação do Governo de 9 de Dezembro de 1808,
 persuadindo a todos os Portugueses a pegarem em armas
Colecção particular

Dias depois foi publicado o Decreto de 11 de Dezembro de 1808, ordenando o armamento geral da Nação, a fortificação das povoações e os exercícios das Ordenanças, assim:
(...) Sou Servido a determinar, que toda a nação Portuguesa se arme pelo modo que a cada um for possível; que todos os homens, sem excepção de pessoa, ou classe tenham uma espingarda, ou pique com ponta de ferro de doze palmos de comprido, e de todas as armas que as suas possibilidades permitem. Que todas as Cidades, Vilas e Povoações consideráveis se fortifiquem tapando entradas e ruas principais com dois, três e mais travezes, para que, reunindo-se aos seus habitantes todos os moradores dos Lugares, Aldeias e casais vizinhos, se defendam ali vigorosamente quando o inimigo se apresente (...)

(...) Devem exercitar no uso das armas que tiverem e nas suas evoluções militares, compreendem todos os homens de idade de quinze anos até aos sessenta. Finalmente, toda a pessoa que se não armar, recusando concorrer com a Nação em geral para a defesa da Pátria, seja presa e fique incursa na pena de morte, e que igualmente incorrem na mesma pena de morte todos aqueles que fornecerem qualquer socorro ou auxílio aos inimigos com víveres ou outra maneira: que pela mesma razão seja queimada e arrasada aquela Povoação que se não defender contra o agressor deste Reino e lhes franquear a sua entrada sem lhes fazer toda a resistência possível (...)


Decreto de 11 de Dezembro de 1808,ordenando o armamento geral da Nação,
a fortificação  das povoações e os exercícios das Ordenanças
Colecção particular

Uma vez mais o País levantou-se e armou-se na sua totalidade contra o invasor, facto que já tinha acontecido por diversas vezes na História de Portugal, nomeadamente durante a Restauração de 1640 contra o invasor espanhol.

No respeitante ao rearmamento foi-se reunindo, pouco a pouco, o velho material espalhado pelos vários armazéns e depósitos, onde ali tinham ficado ao abandono, quando Junot dissolveu os regimentos portugueses e enviou a maior parte dos nossos militares para França incorporados na Legião Portuguesa ao Serviço de Napoleão(1) 

A maior quantidade de armamento e munições de guerra estavam armazenadas em Lisboa no Arsenal do Exército, mas essas estavam muito bem guardadas pelos franceses. Assim lançou-se mão das armas que existiam nos depósitos mais importantes, espalhados pela província, como os de Chaves, Porto, Coimbra e Estremoz.

Receberam-se igualmente muitas espingardas e pólvora de Espanha e da Inglaterra; concertaram-se as armas velhas e outras que o inimigo havia inutilizado, de modo a poderem ainda servir. Assim, de início, se armou mal o Exército e o Povo.

(1). Assunto a tratar oportunamente

Texto e ilustrações: marr