terça-feira, 3 de janeiro de 2012

CAVALARIA



Charanga a cavalo da G.N.R.
O cavalo sempre foi uma das grandes paixões dos portugueses, sendo raro o cidadão que não gosta desses animais. E por alguma razão, durante qualquer parada, todos aguardam com ansiedade a passagem a galope dos esquadrões da Cavalaria da Guarda Nacional Republicana...  isto sem falar dos animais de Alta Escola, o desfile de cavalos tirando os mais diversos modelos de carruagens na já famosa feira da Golegã. Quem poderá ficar alheio ao passar dos campinos em Vila Franca de Xira ou a uma manada com os seus saltitantes poldros em alegre correria pelas lezírias Ribatejanas? Até as pessoas que não gostam de touradas apreciam ver as cortesias nas corridas à Antiga Portuguesa...

E quem poderá ficar indiferente à lenda sobre a origem do cavalo Lusitano? Conta-nos a história que Lisboa teve um lugar sagrado, um "monte santo", onde se criavam éguas fecundadas pelo vento... pelo menos uma coisa se nos afigura como verdadeiro, o local que ainda existe: Monsanto...!

Cavalo Lusitano
A fertilização das éguas pelo vento remonta ao mito da fundação de Lisboa por Ulisses, contudo esta afirmação indica-nos a existência de uma criação de cavalos "muito velozes, superiores aos normais", a que se poderiam chamar "filhos do vento". Estará esta lenda ligada à origem dos cavalos Lusitanos? Talvez, não se sabe...

A história do homem, nas suas grandezas e misérias, sempre foi partilhada com este animal, pelo menos até meados do século XX, terminando assim uma amizade  homem/animal, substituída pela ligação homem/máquina.

Hoje, a sua sobrevivência depende em primeiro lugar de nós e espero que este companheirismo não seja esquecido pelos humanos em abono das máquinas frias e poluidoras...

A nossa Cavalaria sempre foi ligeira, isto é, homens vestidos e armados "à ligeira", sendo a sua base os Dragões. Após a Guerra Peninsular passou a haver no nosso Exército duas espécies de Cavalaria: Caçadores a Cavalo e Lanceiros. Em parte, esta opção foi devida a várias causas, sendo algumas delas as seguintes:

- Cavalos pouco robustos, mas muito ágeis.

- Terrenos muito acidentado, uma vez que a cavalaria pesada
  necessitava de bastante terreno livre para carregar, o que no
  nosso País tal só poderia acontecer nas planícies alentejanas.

- O armamento, ofensivo e defensivo era mais aligeirado, o que
  permitia uma melhor mobilidade no terreno, e como o clima
  tem muitas oscilações térmicas (muito quente no Verão, frio
  e chuvoso no Inverno, além da haver dias quentes e noites frias),
  era necessário grande ligeireza.


Dragão do período da Guerra da Restauração
Colecção particular

Os Dragões sempre foram considerados "infantaria montada", quer isto dizer que tanto combatiam montados como apeados, embora durante o século XVII o termo "Dragão" significasse o hábito de desmontar para combater. Quer-se com isto dizer que as Companhias de Dragões eram consideradas: "como infantaria de mosqueteiros a cavalo, sendo providas de bandeiras, um pouco mais pequenas que as da infantaria. Marcham ao som de tambores ou atabales, o que é mais apropriado para o género de movimentação e manobras que executam; uma vez que tanto podem combater a pé como montados".

Este estado de coisas começou a cair em desuso a partir do inicio do século XVIII tendo desaparecido totalmente no seguinte, ficando apenas o termo "Cavalaria".

Com algumas excepções continuou-se a utilizar a palavra "Dragão" apenas como tradição, tendo como exemplo o Regimento de Cavalaria N.º 3 que era , e ainda é, conhecido pelos "Dragões de Olivença".  E o renascer em Angola dos "Dragões de Silva Porto", durante a última Guerra do Ultramar, foi precisamente no ano de 1967, no Leste de Angola, que foi criado no Grupo de Cavalaria N.º 1 (Dragões de Silva Porto) um pelotão montado, que obteve bastante êxito, tendo dado inicio à sua actividade operacional sensivelmente em 1970.

A utilização destes militares montados teve várias vantagens principalmente no que dizia respeito à sua mobilidade 50/80 quilómetros por dia. As suas frentes alargadas  evitavam as emboscadas; eram silenciosos, chegavam a locais de difícil acesso a pé e evitavam as minas porque não se deslocavam pelas picadas. A título de curiosidade, estes cavalos não eram ferrados.


Grupo de Cavalaria N.º 1
"Dragões de Silva Porto", c.1971
Texto e ilustrações de: marr

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