CHAPÉUS
Modelo 1806/09
Um dos
principais problemas surge-nos quando tentamos analisar as coberturas de cabeça
dos componentes dos Regimentos de Milícias, primeiramente porque o Plano de
Uniformes de Maio de 1806, não é nada claro e esclarecedor a esse respeito: «em vez de barretina usarão chapéus redondos
com uma pele em forma de pluma desde a parte anterior até à posterior da copa», nada mais acrescentando.
Como é do
conhecimento geral, o Plano de 1806 só passou a ter utilização prática em 1808,
uma vez que a sua execução foi abruptamente cortada com a invasão
franco-espanhola comandada por Junot, tendo as tropas francesas entrado em
Lisboa no dia 30 de Novembro de 1807, começando a sua retirada para França,
após a assinatura da Convenção de Sintra a 30 de Agosto de 1808, tendo-se então
restabelecido o governo legítimo em Lisboa a 15 de Setembro desse mesmo ano.
Após a retirada
das forças inimigas, começou-se a trabalhar afincadamente na reorganização do
nosso Exército e por força do Alvará de 20 de Dezembro de 1808, foi publicado o
Regulamento de Milícias, onde no Capítulo VI se trata do «Fardamento dos Regimentos de Milícias» onde no Paragrafo I se lê: «os milicianos continuarão a prever-se à sua
custa do fardamento competente determinado do Plano de Uniformes de 19 de Maio
de 1806, advertindo, que nos chapéus terão uma presilha branca de galão número
30 que, segurando o laço, venha prender junto à aba num pequeno botão
branco e liso; devendo ser de prata a presilha dos Oficiais e Oficiais
Inferiores e de lã as dos Cabos, Soldados e Tambores».
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Frontispício do Alvará de 20 de Dezembro de 1808 (colecção particular) |
Não resta
dúvidas que no regulamento acima referido a descrição da cobertura de cabeça
vem mais pormenorizada, contudo não é suficientemente claro no que diz respeito
ao modelo do chapéu e as fontes iconográficas em vez de esclarecerem, ainda nos
colocam mais dúvidas, uma vez quer existem diversas leituras e sensibilidades
nas suas interpretações; assim penso que a fonte mais fidedigna diz respeito a
umas gravuras posteriormente aguareladas onde se vêem oficiais e soldados de
Milícias com um chapéu alto (cartola) com abas redondas (fig.1).
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Figura n.º 1 (colecção particular) |
Já Ribeiro Artur,
na sua aguarela do Regimento de Penafiel, mostra-nos um chapéu de copa redonda e
com a aba esquerda fixa à mesma por intermédio de um botão que prende o laço e
a presilha (fig. 2).
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Figura n.º 2 (Colecção de postais ilustrados, edição Jornal do Exército) |
No meu trabalho
publicado no Jornal do Exército em 1979 e 1996 apresentei as duas versões,
(fig.3).
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Figura n.º 3 (colecção particular) |
No livro “The
Portuguese Army of the Napoleonic Wars” vol. 3, encontra-se na prancha “C” um
chapéu (fig.4) que é o que mais se aproximam da gravura (fig.1).
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Figura n.º 4 |
Finalmente na
“Collecção Systematica das Leis Militares de Portugal”, tomo III, que eu
possuo, nada mais se adianta sobre este assunto.
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(colecção particular) |
Como a moda
civil influenciou muito o uniforme militar, nessa época, talvez indo por essa
via poderemos ter uma pista no que diz respeito aos chapéus das Milícias.
Corria o ano de 1809, quando a moda inglesa começou a dar o “tom” tendo-se
introduzido em Portugal a moda do chapéu redondo ou chapéu alto (fig.5) já até
então muito utilizado pelos boleeiros a partir de1788.
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Figura n.º 5 (colecção particular) |
Wellington apresentava-se muitas vezes de
chapéu alto de cor clara e Beresford, quando à civil, era regularmente visto a
passear pelas ruas de Lisboa com um idêntico, mas de oleado. Algumas unidades
inglesas também utilizaram este género de cobertura de cabeça (fig.6).
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Figura n.º 6 (colecção particular) |
Existe, ou
existia no Arquivo Histórico Militar um desenho, que nos mostra vários
pormenores de um chapéu, sem nenhuma legenda, que poderá ser de Milícias pelo
menos é o que mais se aproxima; este documento foi fotocopiado no ano em que o
encontrei, por volta de 1976/77, a máquina que fez o trabalho não estava nas
melhores condições, uma vez que se encontra muito escuro e sem a mínima
qualidade, contudo penso que seja um documento muito importante para o tema em
estudo; no que diz respeito à cota não me recordo de a ter anotado ou se a
perdi, restando-me apenas a cópia do documento que apresento (fig.7).
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Figura n.º 7 (in:A.H.M.) |
Algumas unidades
de Milícias e até de Primeira Linha utilizaram chapéus redondos: no Brasil, na
Ilha da Madeira e nos Açores (fig.8)
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Figura n.º 8 (colecção particular) |
Texto e
ilustrações: marr